Pesagem em Movimento: um olhar crítico sobre seu impacto no monitoramento viário brasileiro

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O deslocamento de veículos de carga com excesso de peso é o principal agravante para a degradação das rodovias e isso impacta diretamente a segurança viária de todos que circulam nas estradas. Além do desgaste do pavimento, trafegar com um veículo com um peso muito maior do que é regulamentado é um risco por si só, uma vez que isso sobrecarrega os freios e outros mecanismos do caminhão aumentando a chance de que esse veículo venha a se envolver em um acidente.

Hoje a maneira mais comum de se fazer o controle do excesso de peso na malha viária são as praças de pesagem, porém o avanço da tecnologia HS-WIM (High Speed Weigh-In-Motion), pesagem em movimento com alta velocidade, tem o potencial de transformar o monitoramento e controle de peso dos veículos nas rodovias brasileiras. Enquanto outros países, como a China, já se despontam como líderes em inovação nessa área, o Brasil precisa de maneira célere investir nessa tecnologia de modo que se tenha soluções adequadas às suas realidades e especificações operacionais e regulatórias. 

Mesmo com os desafios que essa tecnologia encontra, as “jabuticabas” brasileiras, já é possível identificar um aumento na demanda por soluções de pesagem em movimento para substituir as praças de pesagem tradicionais. Um exemplo é o trecho da Concessionária Ecovias do Cerrado, BRs 364 e 365, ligando Uberlândia/MG à Jataí/GO que, inicialmente, o contrato de concessão previa a construção de quatro postos de pesagem veicular (PPVs) com balanças lentas, mas que estão sendo substituídas por sistemas HS-WIM para fins de testes e futura decisão quanta a troca definitiva.

A substituição de sistemas de pesagem tradicionais, com balanças de baixa velocidade e praças de pesagem, oferece consideráveis ​​benefícios para o motorista, para a concessionária ou ente de fiscalização e também para o meio ambiente. 

Um ponto importante a se comentar é a evolução e a precisão dos sistemas de pesagem modernos, que, além de identificar o peso do veículo, também podem classificar o rodado com simples ou duplo e por consequência, fazer a classificação dos tipos de caminhões conforme os padrões do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Embora o Brasil tenha uma classificação de tráfego diferente de regiões como a Europa ou a Ásia, a adaptação dessa tecnologia pode padronizar e simplificar o controle rodoviário, trazendo maior eficiência nas operações.

 

Desafios de implementação no Brasil

Com tudo, o cenário no Brasil tem desafios únicos em relação à padronização e aplicação dessa tecnologia. De modo geral, temos uma quantidade maior de classificações de veículos de carga que outros países, inclusive a classificação dependendo se o rodado é simples ou duplo, a complexidade de composição do peso total com base na classificação, dentre outros.

Com isso não basta importar uma tecnologia pronta de outros países, sendo fundamental passar por um processo de “tropicalização”, que envolve uma análise de estatísticas de fluxo rodoviário e a adaptação de soluções para o cenário brasileiro. 

Outro ponto que hoje ainda está pendente para ser definitivamente regulamentado é a questão da obrigação de retenção do veículo e necessidade de transbordo da carga para a sequência da viagem. Esse item é detalhado no parágrafo único do Artigo 231 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), porém considerando que quando se está fazendo a fiscalização através de uma balança de pesagem em movimento, normalmente, não terá um local onde seja feito esse transbordo e com o monitoramento remoto a retenção do veículo para evitar que ele siga viagem é inviável.

Impacto Econômico, Operacional e Sustentável

Hoje a fiscalização de excesso de peso na rodovia necessita de investimento em obra civil para construir a praça de pesagem, compra de equipamento como balanças lenta e de precisão, sistemas para operar a balança e também um custo de se ter pessoas nas balanças para operar e efetivamente fazer a fiscalização. Ao se utilizar a tecnologia HS-WIM passa a ser possível criar mais pontos de monitoramento de pesagem com o mesmo custo de uma praça completa. E para a operação, é possível ter uma equipe reduzida monitorando vários pontos de pesagem do tipo HS-WIM ao invés de equipes distribuídas nas diversas praças de pesagem. Um outro benefício da fiscalização de excesso de pesagem por um sistema HS-WIM é permitir que 100% dos veículos sejam pesados, pois hoje essa pesagem acaba sendo de maneira amostrada nas praças de pesagem.

Sob a ótica ambiental, o sistema de pesagem em movimento contribui diretamente para a redução das emissões de gases poluentes, uma vez que elimina a necessidade de parar e acelerar o veículo para que ele seja pesado com precisão, isso somado ao menor uso do espaço físico, por consequência, sem a necessidade de limpeza de uma grande área para construção de uma praça de pesagem. 

Outro ponto relevante que essa tecnologia pode contribuir é no combate ao contrabando. Um exemplo de aplicação é utilizar a diferença entre o peso informado nos sistemas da Receita e o peso medido efetivamente no momento da passagem como um indicativo de que existe algo de errado, facilitando a detecção de ilícitos, como o transporte de drogas e armas.

A implementação de tecnologias de pesagem em movimento no Brasil é um caminho promissor para aumentar a eficiência e a segurança nas rodovias. Contudo, é necessário que haja mais investimento em tecnologias por parte das empresas e também um fomento do poder público para popularização dessa tecnologia.  O Brasil precisa de mais balanças em movimento, fiscalizando mais pontos ao longo das estradas. Com isso, poderá reduzir custos, otimizar a alocação de recursos humanos e, ao mesmo tempo, garantir que o controle de peso nas rodovias seja mais eficiente, preciso e sustentável.

Por Alexandre Krzyzanovski, Diretor de Engenharia da Pumatronix

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