*Por Alexandre Krzyzanovski
Vivemos em uma sociedade acelerada. Literal e figurativamente. A velocidade excessiva — ainda que nem sempre seja apontada como causa direta de um acidente — está invariavelmente entre os fatores que o agravam. Em pleno Maio Amarelo, movimento global de conscientização pela segurança no trânsito, é preciso fazer uma reflexão séria: como a tecnologia pode, de fato, salvar vidas?
Hoje, a fiscalização de velocidade no Brasil é, em grande parte, pontual. Ou seja, ela ocorre em pontos fixos das rodovias, de acordo com as normas vigentes do Detran e demais órgãos de trânsito. O problema? Motoristas conscientes da localização dos radares — muitas vezes avisados por aplicativos de navegação — reduzem a velocidade nesses trechos, apenas para acelerarem novamente logo em seguida. O comportamento muda momentaneamente. O risco persiste.
A solução não está apenas em fiscalizar mais, mas em fiscalizar melhor. A fiscalização por velocidade média — já adotada em outros países — precisa ganhar força no Brasil. Com o apoio da tecnologia ao longo dos trechos rodoviários, seria possível calcular a média de velocidade real dos veículos e notificar os motoristas que ultrapassarem o limite de forma contínua. Essa notificação poderia chegar diretamente ao celular do condutor por meio do aplicativo da Carteira Nacional de Habilitação, com uma abordagem educativa e preventiva, não apenas punitiva. Isso muda o foco da punição para a conscientização.
O mesmo princípio pode ser aplicado a outras condutas de risco, como o uso de celular ao volante, o não uso do cinto de segurança ou o transporte de cargas perigosas em alta velocidade. A tecnologia embarcada — como câmeras inteligentes com leitura de placas, sensores e sistemas de IA — já permite identificar esse tipo de comportamento com alta precisão. Mas mais importante do que multar é fazer o motorista refletir em tempo real sobre suas ações.
A verdade é que a infração, por si só, nem sempre tem efeito corretivo. Precisamos evoluir para um modelo em que os sistemas de fiscalização dialoguem com o usuário e promovam mudanças de hábito. É nesse ponto que a tecnologia deixa de ser apenas um instrumento de controle e passa a ser uma ferramenta de educação e cidadania.
Para isso, é claro, será necessário um esforço legislativo: mudanças no Código de Trânsito Brasileiro, debates no Congresso, atualização de normativas e regulamentações. Tudo isso leva tempo. Mas enquanto esse futuro não chega, já temos meios técnicos para começar a construir um ecossistema de trânsito mais seguro e integrado, baseado na visibilidade, transparência e responsabilidade compartilhada.
Como engenheiro e profissional da área de tecnologia aplicada à mobilidade, acredito que precisamos olhar para o Maio Amarelo não apenas como uma campanha simbólica, mas como um chamado à ação. A tecnologia salva vidas quando é bem aplicada — e temos, nas mãos, a chance de transformar essa realidade em um compromisso coletivo.
*Diretor de Engenharia da Pumatronix