*Por Alexandre Krzyzanovski
O modelo de pedágio Free Flow, amplamente utilizado em países como Taiwan há mais de 20 anos e no Chile há pelo menos uma década, além de Europa e Estados Unidos, representa uma transformação fundamental na forma como é feita a cobrança dos usuários pelo uso de rodovias, ponte ou túnel. É lamentável observar que o Brasil, com sua vasta malha viária, ainda está atrasado na implementação dessa tecnologia. Enquanto no mundo já se eliminam as barreiras físicas de pedágios, por aqui ainda estamos presos a modelos que demandam grandes investimentos em infraestruturas e operações caras.
O conceito do Free Flow é simples, mas revolucionário: o usuário paga pelo quilômetro rodado, com tarifas baseadas no uso real da estrada. Em vez de grandes praças de pedágio em locais estratégicos, o sistema é composto por pórticos menores e mais compactos ao longo das rodovias, que fazem a leitura das Tags RFID (Radio Frequency Identification) e/ou placas dos veículos de maneira automatizada e eficiente e faz a cobrança dos usuários da rodovia com base nessas informações.
Vantagens evidentes, desafios persistentes
Os benefícios para o usuário final são evidentes. No modelo Free Flow, paga-se pelo uso real da estrada, e não por uma tarifa fixa estipulada por trechos. Nesse modelo não apenas temos custos mais justos, como também reduzimos significativamente o tempo de viagem, eliminando filas e a necessidade de parar em praças de pedágio. Além disso, a estrutura dos pórticos é muito mais econômica e enxuta, com custos menores para a implantação se comparado com o pedágio tradicional.
Contudo, a implementação no Brasil ainda está em uma fase de Sandbox ou provas de conceito e possui alguns desafios técnicos e legais a serem atacados. A classificação de veículos de carga, por exemplo, é um ponto sensível. Enquanto outros países operam com cinco ou seis categorias padronizadas, no Brasil criamos diversas “jabuticabas”, por exemplo, tarifas diferenciadas de eixos simples se comparado com eixo duplo, possibilidade de não ser cobrado por eixos levantado, um número grande de classificações de veículos, etc, essas peculiaridades exigem soluções complexas para se ter uma alta acuracidade e essa maior complexidade acaba elevando os custos. Por aqui, ainda tem sido necessárias equipes de BackOffice revisando manualmente as imagens de placas e classificação de veículos, um processo caro e ineficiente que não condiz com a automação que a tecnologia Free Flow busca trazer.
Necessidade urgente e inadiável
Embora os novos contratos já contemplem o Free Flow como padrão, a transição completa demanda um esforço coordenado entre governo e iniciativa privada. Ainda temos uma grande quantidade de contratos antigos de concessão e que foram implantadas com os modelos de cobrança com praça de pedágio.
Além dos benefícios econômicos, a transição para o Free Flow também é uma questão de segurança. As praças de pedágio tradicionais são suscetíveis a assaltos e acidentes, colocando em risco tanto os motoristas quanto os funcionários, que muitas vezes trabalham em condições de risco dentro das cabines de cobrança.
Estamos diante de uma evolução natural e inevitável. A tecnologia para superar os principais desafios existe e está ao nosso alcance. O Brasil pode – e deve – migrar para um modelo de pedágio mais justo, eficiente e seguro. Com uma malha viária adaptada ao Free Flow, poderemos oferecer aos motoristas estradas melhores, tarifas mais acessíveis e uma experiência de deslocamento pelas rodovias alinhada às melhores práticas internacionais.
O futuro do transporte brasileiro é Free Flow. E ele já deveria estar por aqui.
*Diretor de Engenharia da Pumatronix