Percorrer rodovias sem precisar parar nas praças de pedágios ou reduzir a velocidade nas cancelas de cobrança automática em um feriado prolongado é o desejo de muitos brasileiros que já tiveram experiência com o sistema de passagem ou fluxo livre – o chamado pedágio free flow. O sistema é realidade em países da Europa e América do Norte, e, aqui na América Latina, o Chile é o único país que utiliza o pedágio de passagem livre de forma oficial há pouco mais de cinco anos. No Brasil, esse tema ainda segue em discussão, em especial quando o assunto é a redução de custos para usuários das rodovias federais.
Em 2012, foi feito um projeto experimental em São Paulo. Segundo informações da ARTESP, as rodovias Engenheiro Constâncio Cintra e a rodovia Santos Dumont foram as primeiras a experimentarem o sistema. Depois, em 2013, o primeiro ponto a ponto aberto para o tráfego de veículos foi a rodovia Governador Adhemar Pereira de Barros. Na sequência, em 2014, também foi instalado um sistema ponto a ponto para testes na rodovia Professor Zeferino.
Basicamente, o funcionamento de um pedágio free flow é simples: ao invés de praças, antenas são instaladas em pórticos e viadutos ao longo da rodovia. Quanto à cobrança, é feita de duas maneiras: a primeira delas através de tags semelhantes às já existentes em sistemas de cobrança automática, como o Sem Parar. Essas tags são obrigatoriamente instaladas nos veículos, que são cobrados automaticamente durante a passagem pelos pórticos. Isso é feito por meio de um sistema de RFID, composto por uma antena, um transceptor, que faz a leitura do sinal e transfere a informação para um dispositivo leitor, e também um transponder ou etiqueta de RF (rádio frequência), que deverá conter o circuito e a informação a ser transmitida.
Uma outra maneira de realizar essa cobrança e, ao mesmo tempo, combater a evasão, é por meio de equipamentos de captura e processamento de imagens das placas dos veículos em movimento, similar ao sistema de controle de evasão de pedágio presente nas concessionárias de rodovias.
Quando falamos em um sistema como esse, os ganhos não são apenas em agilidade, uma vez que o usuário passa a transitar pela estrada sem ter que interromper a viagem. As vantagens também são operacionais e estão relacionadas à segurança dos motoristas.
O modelo moderniza as vias e traz praticidade durante o trajeto, sem falar nos preços, que são mais justos, porque a cobrança de tarifa é feita por pontos de medição. Por exemplo: se um motorista trafega em um trecho pedagiado por 30 quilômetros pagando um valor de R$ 15,00 referente a uma concessão com trecho maior, no pedágio free flow, ele pagaria somente o proporcional ao trecho percorrido de 30km, o que é geralmente muito menor, além de transitar mais rapidamente sem a necessidade de reduzir velocidade ao passar pela praça. A grande diferença entre os sistemas é que as praças estão a uma longa distância, e os pontos de free flow podem ser mais frequentes. Então, a tarifa pode estar mais distribuída no decorrer do trecho.
Por meio desse sistema, os veículos, ao circularem por determinadas rodovias, podem ser reconhecidos por suas placas, o que garante a fiscalização em vários sentidos. Vale mencionar que os veículos ainda poderão parar em uma praça, pois ainda existem aquelas de suporte ao usuário. Especialmente para motoristas que, por alguma razão, não pagarem a tarifa durante o trajeto, pois terão a oportunidade de fazê-lo pessoalmente.
Quando falamos em reconhecimento de placas e processamento de imagens, hoje existem equipamentos produzidos nacionalmente que são utilizados pelas concessionárias de rodovias no sistema atual e já servem de suporte para esse tipo de cobrança. Tais equipamentos contam com um OCR que faz o reconhecimento da placa e transfere a informação ao servidor do sistema de gestão da concessionária.
Para reforçar o sistema e garantir que toda a cobrança seja feita de forma adequada aos usuários das pistas automáticas, há também uma solução chamada NEVADA, que foi desenvolvida em 2016 pela Pumatronix e está presente em 90% das concessionárias de rodovias do Brasil. Por meio deste sistema, todo o monitoramento das placas é realizado e validado com o sistema de cobrança, que confere se o veículo possui uma tag válida ou não para seguir o curso de forma livre. Caso negativo, ele envia um alerta ao sistema da concessionária para que as providências cabíveis sejam tomadas.
Há também equipamentos que processam esses dados na borda e operam com diferentes conexões, como Wi-fi, 4G e GPS. É o caso da ITSCAM 600, também desenvolvida pela Pumatronix, que foi pioneira neste segmento. Tal solução é capaz de realizar entregas ainda mais assertivas e rápidas ao sistema de pedágio free flow.
Em relação às discussões sobre a implementação de pedágio free flow, há um projeto de lei que solicita uma alteração para que a evasão de pedágios seja uma infração grave, permitindo que o valor da multa seja destinado às concessionárias. No entanto, seja por questões políticas, por investimentos ou outros motivos, não há previsão de quando esse sistema se tornará realidade nas rodovias brasileiras, que contam atualmente com 303 praças de pedágios, sendo que a maioria está localizada no estado de São Paulo. O fato é que, se em algum momento houver esse investimento, certamente ocorrerá uma redução de custos que beneficiará a todos.